O que queremos dizer quando afirmamos que nossas casas são "extensões" de nós mesmos? Mais precisamente, pode uma casa ser uma extensão de mais de uma pessoa? O que acontece quando uma casa é projetada para duas pessoas muito diferentes? Estas são as indagações do projeto Home at Intersection do arquiteto Yushang Zhang.
Desenvolvido como um projeto pessoal em seu tempo livre, a Home at Intersection é como uma história contada através da arquitetura. A história narra a relação de dois jovens, como eles embarcam em um novo capítulo juntos, construindo a casa dos sonhos. Mas muito mais do que isso, o projeto investiga temas como individualidade e limites de interações sociais, usando a arquitetura como um meio para entender emoções escondidas.
Esta abordagem de história semelhante à arquitetura não é nova. É uma reminiscência do trabalho do Studio Weave, que muitas vezes combina a arquitetura com uma narrativa peculiar. Um exemplo é o projeto para Freya and Robin, duas cabines à beira de um lago no qual o Studio Weave buscou "criar a evidência de um conto de fadas imaginado." Para este projeto, a história de Freya e Robin influencia a arquitetura, tanto quanto a arquitetura influencia a história. O trabalho de Yushang Zhang é o mesmo, mesmo sendo um projeto não construído.
A história de Zhang (que você pode ler em inglês aqui) começa em um ambiente humilde:
Os dois protagonistas desta história, Fred e Sofia, viviam juntos em uma casa simples pequena. O interior não era espaçoso, mas era uma casa aconchegante. Em um espaço tão estreito, sem divisórias, eles praticamente se tornaram um o ar um do outro.
No entanto, quando começam a planejar uma nova casa juntos, Fred e Sofia perceberam, com certo desconforto, que eles são um exemplo da ideia de que "os opostos se atraem": as suas opiniões diferem sobre o estilo arquitetônico dos espaços da sua nova casa. Como resultado, encontram a solução invulgar de construir uma casa em forma de cruz, composta de dois volumes inteiramente diferentes, satisfazendo os desejos de cada habitante. Cada volume é longo e fino, a fim de oferecer as melhores vistas possíveis, e onde os dois volumes se cruzam existem três espaços compartilhadas, um dormitório, a sala de jantar e "sala de memória", com lembranças de seu tempo juntos.
A resolução formal para o problema que foi auto-imposto por Yushang Zhang é certamente intrigante. Despojado de qualquer contexto, a casa está, ao que parece, fixada em um interminável deserto. É um projeto apto para a finalidade, que representa visualmente nada mais do que as exigências dos seus habitantes. De certa forma, é uma reminiscência da abordagem esquemática sem esforço de empresas como BIG, em que uma determinada necessidade cria uma saída lógica em termos de forma.
No entanto, apesar de este projeto ser aparentemente o ideal, Fred e Sofia logo descobrem que o senso de individualidade oferecido pela nova casa faz com que eles se afastem. Como seus horários começam a envolvem menos um ao outro, eles passam a ter menos consenso e menos desejo de ocupar o espaço comum no ponto de intersecção da casa.
Esta triste e lenta separação é sublinhada no final da história, quando Fred espera por Sofia por horas em sua sala de jantar compartilhada, só para depois perceber que ela, sem lhe contar e sem ele mesmo perceber, estendeu a sua parte da casa para o horizonte. Zhang conclui:
As identidades pessoais amplificados, a liberdade irrestrita e os desejos insaciáveis podem transformar uma casa em um minúsculo ponto de intersecção de duas vidas totalmente diferentes e extremamente ocupadas. Ao longo do tempo, quando o ponto de intersecção perde a sua gravidade e nos movemos longe demais, em nossa própria faixas, para conhecer uns aos outros novamente, a casa não existe mais.
A história de Yushang Zhang não é nenhuma tragédia de Shakespeare, e num primeiro momento, pode parecer excessivamente sentimental e um pouco ingênua. Mas, no entanto, oferece uma lição pungente para arquitetos, dando uma nova perspectiva sobre o ideal de design orientado pelo usuário. As pessoas para as quais projetamos são complexas e possuem múltiplas camadas, e muitas vezes o nosso trabalho como arquitetos deve ser o de reconhecer os desejos que não devem ser alcançados. A solução lógica para um problema pode de fato trazer um conjunto de problemas sem solução.